Contracanto
Guillermo Delgado
GABRIELLE
EDITORIAL
---000---
Guillermo Delgado poeta e narrador. Éle tem estudos na Pontificia Universidade Católica
do Perú e na Universidade Particular Inca Garcilaso de la Vega. Atualmente
dirige o Centro de Investigacâo da
“Associacão Profissãonal de Investigacão em Ciências Sociales” (APICS) e
codirige “Gabrielle Editorial”. Anteriormente há publicado “Desde um palco a escuras” (poesia, Gabrielle Editorial, 1991) e “Resumos de Obras Famosas” (Colecão de
4 volumes que têm alcançado já a décimoquinta edição).
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CONTRACANTO
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© GUILLERMO DELGADO
Direitos adquiridos para
a língua portuguesa por: GABRIELLE EDITORIAL
Fone: 624459
Cuidado de edicão: Martha Isarra
Cara e ilústracãos interiores: José E.
Lucano
Para
ti, Gabrielle,
êste
Contracanto
que
é o envés
do
amor e da vida.
Na
terra como
no
céu...
e
em meu coração sempre.
---000---
PRÓLOGO
Em meus anos desportista de
veloz adolescente fui um bom afeiçoado ao futebol. Concorria, infaltavile, à
Tribuna Sul do Estadio Nacional, afeiçoado como é natural de Alianza Lima. Fui
a ver as figuras de meus bom amados hérois de então. Não imaginava-me que mais
tarde, ao passo dos anos, fazería amizade com o filho de Guillermo Delgado,
aquêle maravilhoso back centro aliancista, mais conhecido na cancha como “o leão de José Díaz” (“aos
bravos e danhosos / que leão”). De aquêlos tempos hão ficão na memória, como
esculpidos em bronze, os memorables duelos entre Guillermo Delgado e Alberto
Terry, duo de ouro que a grama lembra e que difícilmente voltará a florescer.
Guillermo Delgado - filho é tanbém um fazedor de figuras
como seu pai, só que aquêle borda-lhos
na grama e êste jovem poeta as burila nas páginas em branco. Bom formado e
informado, como os poucos poetas de as últimas promoçãos. Se a passa nervoso e
agitado entre livros. É editor e
promotor. Grã leitor dos clássicos e empenhoso conhecedor da preceptiva
literaria e do rigor métrico. César Calvo há dão já o play de honra a sua poesia luminosa prolongando com olho
agudo o suo livro Desde um palco a
escuras.
Agora, Guillermo, ágil e repentino, íntimo e germinal volta
a comover-nós, com êsta entrega poética, livro que aviva meu entusiasmo, ainda um pouco invejoso
de seu juventude e do hálito fecondo de
seu fantasia.
ARTURO CORCUERA.
“Nosso fogo terreno, sejam
quales sejam seu fúria e extensão, tem sempre uma zona limitada; más o
lago de fogo do infierno não tem limites, nem praias, nem fundo. Diz-se que uma
vez o mesmo diabo perguntado por certo soldado,
viu-se obrigado a confessar que sim tôda uma montagna fora arrojada naquele oceano fervente seria consumida num
instante como um pedaço de cera. Êste terrível fogo não aflige as almas dos
condenados sóamente por fora, senão que cada alma será um inferno dentro de sim
mesma, abrasado por quele fogo devorador em seus mesmos centros vitales. Ó!
quão terrível é a sorte de aquêles
miseráveles seres! A sangue bolhe e ferve em seus veias, os mioles se lehs
afoguean no crânio, o coração se lhes queima no peito como um tição, seus tripas são uma massa avermelhada de
ardente polpa, seus tenros olhos
flamejan como globos candentes”
James
Joyce
“Retrato do
artista adolescente”
(Página 9)
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Porque a vida despois de
todo
não é mais que um ir e vir
um contracanto
de dôr e esperança.
(Página 11)
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PRECANTO
---000---
Hoje hei volto a renascer
das cinzas,
na que postrou-me
a indiferença dos homems
quando soou meu pranto;
e hei volto a sentir
a fria soledade dêstos muros
entre as migalhas de meu
pão.
(Página 15)
---000---
Não encontro caminho mais
belo,
digno e suportável
para expressar meu sentir
que as palavras.
Porque meu verso brota
da palavra simples
de flor em flor
de galho em galho
de folha em folha.
(Página 16)
---000---
Perguntar quis a lua
do porque
de meu silêncio,
do candidoso rir
dum momento de tarde
à chegada da noite,
oscila a vida, acaprichada,
entre o querer
e o não poder.
(Página 17)
---000---
A nostalgia me hà traxido
agora que jà és
morte
fedor
pó
olvido
E eu tão só
para ti
silêncio
ausência
ninguém.
(Página 18)
---000---
Surgiu uma voz
embravecida
entre a pedra,
e o homem afundou
seu mão na terra
e enchou-se de vida.
(Página 21)
---000---
O tempo, o tempo, o tempo.
Dita eterna
a do homem primitivo
sem tempo e sem angústia.
(Página 22)
---000---
CANTO
---000---
Me aferro a teus braços
buscando encegocido
o frío da morte.
Aspiro profundamente
entre teus seios,
e plácidamente
me deixo cair
sôbre a terra.
(Página 25)
---000---
Se avizinha um vendaval,
aquoso;
paixão irrefreiavel
que em teu corpo
dá de cheio.
Lambo, sorvo, aspiro,
cheiro,
o fedor dum corpo remexido
que afrodita os sentidos.
Te sacudis,
te contraies,
te estremeces,
te dobras e desdobras
à vez que te alongas
em mil formas.
(Página 26)
---000---
Instante teu
onde teu soma
assoma
atento à investida
de mil homems
que em meu mente te possuem.
Garfas de fera
são agora
as doces mãos
autrora por teu corpo
tão caras.
Redimido e devorado
gemo, uivo, bufo, grito...
pois, jà chega o vendaval
que em teu corpo
dà de cheio.
(Página 31)
---000---
Ao ver-te sacudida
por um tremor interminavel
meus olhos se perdem
num gemedo profundo
que nós adormece.
(Página 32)
---000---
Há um tempo para esperar
um tempo para dizer o sento.
Há um tempo para o amor
um tempo para o silêncio.
Há uma parte em ti e em me
que dexeu a um lado o
silêncio
que entregou ao amor
e se olvidou do tempo.
(Página 33)
---000---
A vezes quisera
perder-te em meu silêncio;
Encerrar-te num livro
já lido;
Esculpir nossas almas
num verso;
profanar meu soledade
(cara e bela)
tão só um momento
e que vivieras nela,
refletida para sempre.
(Página 34)
---000---
Aflora em meu verbo
um canto celestial;
solitario
E nele chega teu voz
teu voz que já é dôr;
olvido.
Jazem hirtos, jazem mortos
os antigos olivales;
ficaram.
Verde sauce, ainda aqui
em meus pupilas;
lágrimas.
Tu mulher, eu um menino
porém mais pôde o desejo;
paxião.
Olvidaste recordar
olvidarte de meu amor,
lamento.
(Página 35)
---000---
No folhagem dos álamos
te hão de chegar os gemedos
dum menino
que é a negacão de Deus.
(Página 36)
---000---
Como ter um mondo
entre as nuvems,
belo e profundo
para poder amar-te,
reder-me a teus carícias
mentras subes
e a noite esperar
para adorar-te.
Como ter uotra vez
a joventude perdida,
impetuosa, febril,
a alegría do menino,
a fortaleza do homem sem
ferida
sem o frío coração que o
peito cinhe.
(Página 37)
---000---
Quando fuges de meu lado
parece que olvidaras
que sem ti....
não serei nengúm.
(Página 38)
---000---
Como um cabo de vela
que agoniza na noite
meu amor se foi apagando
a poucos em silêncio
suave brisa, triste
despertar
que va anunciando,
sombras escondidas de
esperança.
(Página 39)
---000---
Hei visto passar o amor
nas asas duma gaivota.
(Página 40)
---000---
CONTRACANTO
---000---
Trés cravos....
a sangue estalou em ira
e humadeceu a terra.
Um grito horrível enfureceu
os céus
e murchou o oliveira.
Onze ovelhas voltarom ao
redil
uma.... ficou-se no homem.
(Página 42)
---000---
Sim com uma mirada tua
posso ser feliz
não me tires a alegría
de viver em ela
para sempre.
(Página 44)
---000---
Há um ser que se espuma
no mar de teu corpo
e que me espera.
Carne ou poeira
fogo ou cinza
em rio vou.
(Página 45)
---000---
A rosa vermelha que em teu
bôca assoma
em voo está de borboleta em
fuga
pétala púrpura a meu lingua
toma
qual húmedo cristal, qual
galho de uva.
Frena tu ímpetu badalo irado
que meu bôca jaze um ardente
amante,
fero, paladín, pegaso alado,
porte, figura, chama
fulgurante.
Fogo de teu fogo sou agora
e,
ao rictus arrogante de teu
bôca,
sento que meu corpo se
estremece
pois não é meu à quem
teus lábios toca
-murche a alma à quem teus lábios beije-
nem cristal nem uva só amor
te dei.
(Página 46)
---000---
Só te pedo
mentir-lhe à meu coração
uma vez mais.
Disse-lhe que é tarde
que alguém te espera
que tens que ir-te
que voltarás manhã.
Eu sei que êle entenderá
porque te hás ido....
ainda eu saiba em o fundo
que não voltarás.
(Página 49)
---000---
Já vou chegando onde tu me
deixas
partindo vou onde tu te hás
ido
pianto, dôr, miséria,
olvido,
o mesmo dá sí tu de meu te
afastas.
(Página 50)
---000---
porque o que há
entre tu e eu...
será sempre
o arrependimento
despois do pecado.
(Página 51)
---000---
O amor em ti
é como uma hóstia
insipida e inerte.
(Página 52)
---000---
Teu amor é a rosa
que de manhã em manhã
va apagando seu riso
va opacando seu canto.
Triste destino
o de teu amor e a rosa
quando perdem seu encanto.
(Página 53)
---000---
Ao ver-me ante o espelho
murchar-me a poucos,
meu alma sofre , meu pena
cresce
e não posso esquecer que me
hás amado.
A vezes vago entre a ombra
duma rua incerta
e tenho medo,
me encolho num angolo
buscando o calor
que tu me negas, e asim,
desesperado e só
volto a casa
e meu esperança como ontem
está deserta.
(Página 54)
---000---
Até quando hei de fingir
que estou sereno,
e que em torno à ti todo é
azul,
que todo é luz,
que nada me preocupa;
esconder esta amargura, esta
tristeza,
o nefasto aroma dum veneno
que em meu sangue aninha
anunciando-me a morte.
(Página 53)
---000---
Só espero
que a morte airosa
sofra a derrota
que hás de dar-lhe
por haver-me arrebatado
de teus braços.
(Página 56)
---000---
Como cadáver insepulto
meu corpo se resiste
à não viver.
Duro preço hei de pagar
por um amor
sorriso fácil, rosto
lisonjeiro,
débil de alma, perverso,
traidor.
Para enterrar meu gran amor
te der algo mais que um
funeral.
(Página 59)
---000---
Se eu houvera sabido
que tu amor era
como o dos marinheiros,
de aquêles que dia a dia
trocam de nomes
como seus naus de pôrto.
(Página 60)
---000---
Há uma forma tão simples,
labial,
de dizer Te amo!
Que me aterra.
(Página 61)
---000---
E eu que vivi pensando
que o amor era belo
que existem os amigos
que os homems eram boms
que teu eras a rosa
que uma vez amei.
(Página 62)
---000---
Eu houvera quisto
eternizar-me
em teu mirada para
tuda a vida,
eu houvera quisto gemer
entre teus braços
como sempre,
eu houvera quisto
fundir meus ossos com os tuos
burlar-me da morte;
houvera
houvera
houvera
mil vezes houvera...
mais no silêncio teu
e o desta noite
se me há ido a vida
em teu mirada.
(Página 63)
---000---
A CASA SÓ
Triste teu rosto, opaca teu
mirada,
a casa vazia jaze só
sem nós, os mesmos
da morada solitária
que hoje dexiamos.
Confim de meu tristeza é a teu,
acusadora indesmaiavel
deste coração de pedra dóida
que te adora
e à cuja sombra embriagadora
está um menino que hoje te
vê com alegria.
(Página 64)
---000---
PASTORAL
---000---
CANÇÃO
PARA TI
Sí morrira a rosa
que com quentes beijos
semeara em teus lábios.
Se olvidaras um dia
aquêle beijo lembrado
para dar-lhe à outro homem
o amor que fiz meu.
Afogarias por sempre
o desejo insistênte,
de buscar-te e dizer-te
que o amor eres teu.
(Página 67)
---000---
CANÇÃO
DE CALHANDRA
Não digas adeus,
que uma calhandra
com asa ferida
se pousou em meu ombro
e muito devagado
sem pressa....
me anunciou que me deixavas.
(Página 68)
---000---
CANCÃO
DO VAGABUNDO
Lança teu mensagem ao vento,
éle navega nos mares
sem veleiro;
se eleva entre cumes
desolado;
fecunda os campos
sem sementes.
É a voz do tempo.
(Página 73)
---000---
CANÇÃO
DO SOLITÁRIO
Ainda só em sonhos sejas
minha,
e com mão certeira aplaque
o fogo que devora
a lama nu
que sujeita minha alma;
a inquietação que em meu
provocas
há de apagar-se ao fim
num vaivém sonoro
de prazer, euforia e pranto.
Mais não será meu canto
o que à teus ouvidos chegue lastimoso
qual um pobre mendigo
que à seu antro arrastra
o corpo fedorento que
possue.
Há de ser o canto triunfador
da ave prisioneira que
abrigou meu mão,
ave, que agora livre,
abandona para sempre
o corpo de seu amo.
(Página 72)
---000---
CANÇÃO
DO CAMINHANTE
Caminhando, caminhante,
foram os meninos crescendo.
Caminhando, caminhante,
a vida va envelhcendo.
Como querendo cansar ao
olvido
como querendo atrair ao
sorte
caminhas à passo lento
apurando à trancos a vida
retardando à momentos a
morte.
Passos que passan, penas que
vêm,
risos que partem, prantos
que ficam.
Caminhando, caminhante,
caminhando se va a vida,
caminhando para a morte
à morte que está esperando.
(Página 73)
---000---
CANÇÃO
DO CISNE
Quando estejas só
no caminho
puder mirar-me no espelho
afundar meus lábios
humedecer a erba.
Quando estejas só
no caminho
puder confiar-lhe ao vento
que foste um cisne
que navegó em meu corpo.
(Página 74)
---000---
Quando estejas só
no caminho
puder mirar-me no espelho
funderar meus lábios
humedecer a erba
confiar-lhe o vento
que fôste minha
que fôste um cisne
que navegó em meu corpo
que abriu seus asas
....que se perdeu no tempo.
(Página 75)
---000---
CANTO
DIVINO
De uma lira caida
das mãos do Dante,
se agitarom as cordas
e disseram um nome.
Se perderam seus notas
num vale infinito,
e as cordas vibraram
na noite acendida.
Que disseia?....Não sei.
Que disseram?....Quem sabe.
Não te alarmes querida
não te inquietes tesouro,
foi quiçá uma estrêla
foi quiçá um rouxiñol
ou tão só um sospiro
ou um bocejo de Deus.
(Página 76)
---000---
CANÇÃO
DO RUXIÑOL
Cala o ruxiñol
seu trino de alvorada,
ao pé da janela
em que arrastrando vou
- cara minha -
meu sombra enamorada.
Seu trinar melodioso
anuncia meu presença,
sigilosa e ansiosa
do amor em que estou
- cara minha -
presso em tu inocência..
Cascavel emplumado
que acudes pressuroso
não retardes teu voo
não deter teu passo
que hei chegado por fim
- cara minha -
à logar tão belo.
(Página 77)
---000---
CANÇÃO
DAS FLORES
Eres lírio,
craveiro,
rosa,
açucena,
orquidea,
fucsia,
girassol,
jasmim,
pólem, estame, cor e cálice,
a flor mais bela entronizada
em meu;
um reino de cores
onde a humanidade ausente,
não semea seus dôres
ao redor de ti.
(Página 78)
---000---
EPIFANIA
---000---
TRIXUS
Hoje me hás dito te amo,
hoje me hás dito te quero,
e hoje hei afogado em
silêncio
um sospiro de amor.
Sempre, só teu, lho que teu
queras.
Triologia de amor
que se perde nas sombras
destas quatro paretes
onde eu vago nu,
sem saber nem de onde
me há chegado teu voz.
(Página 81)
---000---
CONTRACANTO
Juntos andaremos ainda
o trecho inacabado
do espinhoso sendeiro
que sem rumo
vem e vai.
Caminho incerto
que ameaçador assoma
novamente,
como se não fora suficiente
o que juntos comunguemos
ante o cálice infantil
que caiu de nossas mãos.
Juntos ante a hóstia amarga
que à recevir nós apuramos,
como tratando vanamente
nessa pressa
apaziguar em algo
nossa culpa.
(Página 82)
---000---
Juntos, sempre juntos,
levando à rastras o madeiro
que uniu nossas vidas
e que hoje,
despois da tempestade sem
calma
que açouta nossas almas,
nós condena á eterna
soledade
de viver juntos.
Juntos virmos
ocultarse o sol
sem esperança.
Juntos lembráramos
o que queremos
olvidar.
Juntos como dois estranhos
conheceremos ao fim
o rosto envelhecido
do amor ante a morte.
(Página 83)
---000---
Juntos, sempre juntos,
porque estamos condenados
desde sempre,
à viver e à morrer juntos.
(Página 84)
---000---
Ficará um silêncio
impenetravile tras meu
morte,
para que meu alma errante
qual zelosa cãocervera
proteja meus cinzas da sorte
que teu e os outros podem
darlhe.
Voltaré à meus filhos como um cego:
no vento
no mar
no ar
na sangue dos dêles,
para que teu nem ninguém
profanem seu descanso.
(Página 87)
---000---
ÍNDICE
Prólogo
................................................................................................. 7
PRECANTO
Hoje héi volto a renascer
...................................................................... 15
Não encuentro caminho mais belo
....................................................... 16
Perguntar quis a lua
............................................................................. 17
A nostalgia me há trazido
..................................................................... 18
Surgiu uma voz
.................................................................................... 21
O tempo, o tempo, o tempo
................................................................. 22
CANTO
Me aferro a teus braços
........................................................................ 25
Se avizinha um vendaval
..................................................................... 26
Ao ver-te sacudida
............................................................................... 32
Há um tempo para esperar
................................................................... 33
A vezes quesera
................................................................................... 34
Aflora em meu verbo
........................................................................... 35
No folhagem dos álamos
...................................................................... 36
Como ter um mondo
............................................................................ 37
Quando fuges de meu lado
.................................................................. 38
Como um cabo de vela
........................................................................ 39
Hei visto passar o amor
....................................................................... 40
CONTRACANTO
Trés cravos
......................................................................................... 43
Sí com uma mirada teu
....................................................................... 44
Há um ser que se espuma
................................................................... 45
(Página 89)
---000---
A rosa vermelha que em teu bôca
asoma ............................................. 46
Só te pedo
........................................................................................... 49
Jà vou chegando onde teu me
dexias ................................................... 50
Porque o que há
.................................................................................. 51
O amor en ti
........................................................................................ 52
Teu amor é a rosa
................................................................................ 53
Ao ver-me ante o espelho
.................................................................... 54
Só espero
............................................................................................. 56
Como cadáver insepulto
...................................................................... 59
Sí eu houvera sabido
........................................................................... 60
Há uma forma tão simples
................................................................... 61
E eu que viví pensando
....................................................................... 62
Eu houvera quisto
eternizar-me ........................................................... 63
A casa só
............................................................................................. 64
PASTORAL
Canção para ti
...................................................................................... 67
Canto de calhandra
.............................................................................. 68
Canção do vagabundo
......................................................................... 71
Canção do solitario
.............................................................................. 72
Canção do caminhante
......................................................................... 73
A canção do cisne
................................................................................ 74
Canto divino
........................................................................................ 76
Canção do rouxiñol
............................................................................. 77
Canção das flores
................................................................................ 78
EPIFANIA
Trixus
................................................................................................. 81
Contracanto ........................................................................................ 82
Ficará um silêncio
............................................................................... 87
(Página 90)
---000---
“Contracanto”, de Guillermo
Delgado, se terminó de imprimir nas
oficinas gráficas de Editorial “San
Marcos” R.I. 15 - 05828 - D. Natalio Sánchez 220 Of. 301 - Lima, Perú.
---000---
José Lucano Flores
(Trujillo, 1961). Tem estudos em a Escola de Belas Artes da citá de Trujillo e
em a Escola Nacional Superior Autónoma de Belas Artes do Perú (ENSABAP). Em
1991 ilustró “Desde um palco a escuras” (Poemas)
de Guillermo Delgado. Em a obra de Lucano lho onírico e a utopía terrenal se
unem num universo de mágicas perguntas de quotidiana transcendência.
---000---
Teu
amor é a rosa
que
de manhã en manhã
va
apagando seu riso
va
opacando seu canto.
Triste
destino
o
de teu amor e a rosa
quando
perdem seu encanto.
---000---
Fim
AS MAUS
CONSCIÊNCIAS
GUILLERMO
DELGADO
---000---
Antes de As maus consciências, o mais recente
livro de poemas de Guillermo Delgado, hão sido editados Desde um palco às escuras (Gabrielle Editorial, 1991) e Contracanto (Gabrielle Editorial, 1996).
Investigador infatigável, Delgado dirige desde 1998 o Centro de Investigacão
da Asociação
Professional de Investigação em Ciências Sociales (APICS) e as Escolas de
teatro Abelhorro e Libélula.
---000---
AS MAUS CONSCIÊNCIAS
---000---
GUILLERMO DELGADO
AS MAUS CONSCIÊNCIAS
EDITORIAL SAN MARCOS
---000---
AS MAUS CONSCIÊNCIAS / GUILLERMO
DELGADO
Cara: “Saskia com um
craveiro” - Rembrandt. Dresde, Pinacoteca.
Ilustraçãos interiores:
Rembrandt.
Guillermo Delgado - 1998,
Agosto.
Direitos adquiridos para a
língua portuguesa por:
Editorial San Marcos.
Cuidado de edição: Martha
Isarra.
---000---
AS MAUS CONSCIÊNCIAS
POESIA
Guillermo Delgado
---000---
Para Martha
Isarra, companheira de
infinitas
batalhas,
agora e sempre, com um ternero, doce
e
dôloroso adeus.
---000---
“Forte é o peso da própria
consciência”
Cicerón, De natura deorum,
lib. III
O sol chora
entre as folhas mortas.
Vestidos de
escuro
os árvores, tristes sepultureiros,
assistem ao
funeral
do ocaso
outonal.
Se estão
fechadas as portas
do céu.
Há um véu
de névoa sobre
os rios.
Os altares da
citá
cintilam de
luzes.
E os portales
entre muro e muro,
melancólicos
baldaquinos,
se encurvam
sobre a humanidade
que acompanha
em processão
o féretro da estação.
“Funeral”
Giuseppe
Villaroel, da “Stelle Sugli abissi”
---000---
PALAVRAS
DE CONSCIÊNCIA
Guillermo Delgado surge nel âmbito do poesia peruana na
chamada “Promoção do 80”, porém seus dois obras anteriores: Desde um palco às escuras (1991) y Contracanto
(1993), aparecen una década depois, como uma resposta necessária e
urgente a uma visão muito pessoal de temas tão antigos como aparição do homen
sobre a terra; me refero á amor; á morte e á soledade. E claro, isto não é uma novidade, pois nengúm posse
sentir-se alhelio a istos parametros que mais bem parecem ser os sintomas
representativos do contexto humano em pugna por a esparança e por conquistar
uma voz própria. Delgado é consciente de êste achado pessoal, pérom seu
alternativa não por mesurada a nível do linguagem é menos densa a nivel de
conteúdo. Em os dois livros indicados e em As
maus consciências, palpita um excelente denominador: a presença de o humano
com os matizes tudos que podem despregar-se de e desde a perspectiva de amar e de
sonhar, por iso recorre ao dialogo, também ao monólogo e faz do mar seu
comfidente, seu companheiro segrêdo. Mais sem dúvida, detrás de cada verso,
palpita a vezes ou mais de as vezes, dolorosamente seu sensitiva e aguda
humanidade.
Delgado é um de nossos
poetas mais representativos; parecera que seu vida se afunda no vazio, no
exilio e tão vez na morte. Êste último poemario, que conforma uma formosa
triologia com os dois anteriores, acentua seu tremula mirada de amor, pulsa a
tensão do olvido e o irremediável, nós fala de uma partida irreversivel que
lamenta seu desencanto. O elemento rosa, que por seu fragância, beleza
e subtileza é comparada à mulher, e à inversa, com a exepção de que esta não se
desfolha senão que desaparece de uma realidade que mais prefere a ensonação que
a presença. Por certo, não é a “rosa” esquiva de Martín Adán, é uma rosa
que pode, incluso desde o exilio e a melancolia, levar-se cravada no alma, mais
seu aroma é mortal.
Há nos poemas de Delgado, um imenso valor de sinseridade,
uma amostra de virilidade ante angústia irremplazavel. O amor e a morte o
cativam. A soledade e o pranto parecera o acompanham desde sempre, pois no
fundo das palavras descobrimos também num menino solitário e silencioso. Não
obstante, acredito, finalmente, que seu poesia que há livrado longamente a
barreira da improvisação, há de livrar ao homem em seu dimensão tuda de poeta
autêntico.
Sol de Ica, Agosto de 1998
JESÚS CABEL
---000---
AS MAUS
CONSCIÊNCIAS
---000---
POEMA PRIMEIRO
Seca ficou uma rosa em seu
guarda-jóias,
fúnebre flor que enturva ao
meio-dia
aroma que se perde no vergel
sem luz de nosso amor que já
morria.
Seca ficou a rosa em teu
regaço,
murchia flor que jaze na
penumbra:
a que antes renascia no
ocaso
morta está no fulgor que já
não alumia.
E agora que se hão ido teus
encantos
a morrir nas asas do olvido,
é a rosa que há volto a
renascer
nas ténues salmodias dos
santos,
deixando numa esteira o
vivedo
e o inerte em caminho a
florescer.
(Página 17)
---000---
POEMA SEGUNDO
Se não houverem tãos cousas
no alma
que não se puderam dezir....
(Página
18)
---000---
Jovem
capuchinho. Rijks Museum, Amsterdam.
---000---
POEMA TERCEIRO
Sabes melhior que eu
que há um momento da noite
em que não se pode-lho
mentir ao amor.
(Página 21)
---000---
POEMA QUARTO
Para Ítalo Porvi
Me vejo nessa luta
interminável
que do ocaso ao alva
me persigue, inclemente e
nu.
Meus olhos jazen na penumbra
da morte, como esperando
o vazio, sem paredes nem
fundos
que detem meu caida.
Meus mãos como meus palavras
parescem não alcançar-me.
No instante em que escrevo
êstes versos me hei chamado
pérom meu voz não se há
pousado
em meu, como se um mau
agouro
me anunciara que não estou.
(Página 22)
---000---
A noiva judea. Rijks Museum, Amsterdam.
---000---
POEMA QUINTO
Agora que me há tocado teu
voz
descobro que meu coração
latia ainda,
e que a imagem que teu alma
refletia era meu rosto.
(Página 25)
---000---
POEMA SEXTO
De meu coração por ti,
logrou meu amor sair
qual duas paixãos
que se enfrentam.
Em guerra e paix
em vida e morte
Cenit e nadir...
como dois rios distantes
que se encontram.
(Página 26)
---000---
POEMA SÉTIMO
A vezes sou o vento
que te turva,
a urtiga hostil,
a má erva
do jardim de teus sonhos,
a barca solitaria que
naufraga
neste mar embravecido de
infortuno
que é a vida.
E em a palavra emudecida
destos versos, é a Deus a
quem pergunto:
Porque teu eras o mar que eu
buscava
e eu o veleiro em que meu
amor se ia?
(Página 27)
---000---
POEMA OITAVO
Navego por caminhos
intransitáveles
para chegar aquêle
que dança entre as sombras.
(Página 28)
---000---
Aristóteles e o busto de
Omero. Coleção
Erickson. New York.
---000---
POEMA
NONO
Porque meu vida com o mar
va mais là do espuma
que abraça meu corpo.
Sigo, veleiro errante,
em busca dum lugar
em a praia
onde poder morrir.
(Página 31)
---000---
POEMA DÉCIMO
Prisioneiro de meus proprias
palavras
vou por êste mondo
a recolher meus mortos.
(Página 32)
---000---
POEMA UNDÉCIMO
Espinhosa rosa,
vermelha e lisonjeadora.
Desconfia, poeta,
de âquela rosa,
que sendo vermelha,
não é a rosa
que desejas.
(Página 33)
---000---
POEMA DUODÉCIMO
Para Charo Murriel
Em quantas tagalerices
se falará de mim.
De meu virilidade,
de meu fuga repentina
com os calças a meio subir;
(fugendo....rato apresurado)
Meu primeira experiência
frustada
por a chegada inesperada
de tua casta irmã.
Em quantas tagalerices
se seguirá falando de mim,
de meu roupa interior
que troca de cores
em risos e lembranças,
em motejos e gargalhadas.
Mentras aqui,
meu amor imerso no passado,
persiste em socavar
estúpidamente
o fértil vulcão de teus
quinze anos.
(Página 34)
---000---
O sacrifício de Abraham. Ermitege. Lenigrado.
---000---
POEMA DÉCIMO TERCEIRO
Cativa entre folhas brancas
jazes
inacabavelmente só.
À sombra triste de teu
mirada
me vou desvanecendo
como o fantasma oculto
dos versos escritos.
Sem magia, sem sonhos, sem
ilusãos,
sem uma estrelha que
justifique
a chegada da noite,
me movo entre teu leito
abandonandome a teu.
E quando o alva se pousa
sobre meus olhos,
me afasto cobardemente
deixandote cativa
entre folhas brancas
inacabavelmente só
(Página 37)
---000---
POEMA DÉCIMO QUARTO
Tudo o que irradia juventude
ante meus olhos avelhentados
se me apresenta belo
e me cega.
Trágico fim o que me espera
agora que meu juventude
jaze em a penumbra.
Oh!, Polack, Polack,....!
Recolhe teus despojos
e deixa teu coração em paz
para que siga chorando
a través de teus olhos....
e não tentes os deuses
uma vez mais.
(Página 38)
---000---
Cristo e a samaritana. Coleção Timken. New York.
---000---
POEMA DÉCIMO QUINTO
Se eu houvera bebido
em teus braços
a ternura de teus quinze
anos,
haveria pousado nela
a essência de meus sonhos
como se pousan nas rosas
as gotas do orvalho.
(Página 41)
---000---
POEMA DÉCIMO SEXTO
Te deixe uma rosa...
e ao partir
olvidei pousar
en teu rosto
as mãos que arrancaram-lha,
e em teu boca,
os lábios
que a desejaram.
(Página 42)
---000---
Sansón e Dalila. Kaiser Friedrich. Berlín.
---000---
POEMA DÉCIMO SEPTIMO
Cada vez que teu falas
meus lábios se afastam
e meu ser sofre
a soledade destos dias.
Eu não sei como fazes
para golpear-me na alma
quando vivo um sonho
quando penso num menino
quando sonho desperto...
o que vivo dormido.
(Página 45)
---000---
POEMA DÉCIMO OITAVO
Meu vida é um rio já gasto
em cuja beira a morte
pestaneja.
O astro que em meus águas
amarelece e cintila
a vê mirar-me com desdém.
(Com cruel indiferença
meu alma pede)
Brilha o enxadão
num vaivém ameaçante,
e num paragem escuro
lha vejo....
Já cansada, já aborrecida
deste rio que a morrer não
se decide.
(Página 46)
---000---
O filho prodigo. Coleção Cook.
---000---
POEMA DÉCIMO NONO
Hoje simplemente
não há nada que dizer.
Nem tempo.
Num instante nos permite
a tristeza
que o invade tudo...
que tudo o invade.
Os meninos são belos
pérom não há tempo
para seus jôgos.
A vida se o cheva tudo:
as ilusiãos da alma
os jôgos dos meninos
e até a tristeza
que o invade tudo.
(Página 49)
---000---
POEMA VIGÉSIMO
Até agora me pergunto
de que tamanho era teu amor,
qual o origem de teus
beijos,
teus carícias, teu paxião.
O que não perdou o amor
não o há de redimir a morte,
já que só conheceu
a magnitude de teu rancor.
(Página 50)
---000---
Velha cortando-se as unhas. Metropolitan Museum. New York.
---000---
POEMA VIGÉSIMO PRIMEIRO
Eu fôr buscando como antes
os caminhos novos.
Tu fores buscando como agora
os caminhos nossos.
Em cada passo meu
afirmaré meu olvido.
Em cada passo teu
se poussará meu ausência.
E em cada noite triste,
como quela em que se
fecharom as portas de
teu casa para sempre,
nos chegará uma voz
- para dizer-nos soavemente
-
que ao som de amaldiçoar meu
vida
amaldiçoarás teu sorte.
(Página 53)
---000---
POEMA VIGÉSIMO SEGUNDO
Parece que olvidaras
ou quisesses olvidar,
que a auréola do destino
escurece, dia a dia, meu
caminho
como o rio, que em seu longo
rombo,
deixa um lama lodaçaloso
como o vinho.
(Página 54)
---000---
Lot e seu filhas. Colecão privada.
---000---
“AS VOZES
DOS OUTROS”
---000---
AS
AVES
As
aves já não sulcam
a eterna soledade
deste caminho.
Asas passajeiras que buscam
outros ventos
alheios a essos campos
onde estão.
(Ventos que vêm em asas
angelinhias,
angeles que vêm em asas que
se vão)
Enfastiadas de bater
inútilmente êstas sendas
onde o amor e o ódio
juntaram nossas vidas,
âquelas asas maltratadas
vão partendo hacia o mar...
deixando no olvido seu dor.
(Asas que se perden em
nuvems branquezinhias
aves passajeiras que não cesan
de chorar)
(Página 59)
---000---
OUTUNO
Quando as folhas dos álamos
se abandonen ao outuno
o tanger duma campana
te falará de mim.
O riso olvidado dum menino
teu chenará de dita
e uma sêde de mãe
humedecerá teus lábios
amargamente.
Quando sentas ums passos
chamar a teus ouvidos
ecutarás o pranto desse
menino
que deixaste em mim.
(Página 60)
---000---
Autretrato. Museu dos Uffici. Florencia.
---000---
SINFONIA DO DESAMOR
Eu amo a brancura da rosa
porque é formosa como tu,
e mais ainda,
a branca seda que em teus
pés se poussa,
teu ausência, teu silêncio
que o é tudo.
Se hei de sofrir teu próxima
lonjura,
teus desdémes, teus
querelas, teus censuras;
nada importa, nada temo.
(Doce sinfonia são teus
ironias
em meus tristes noites)
Para que quero a vida
se não tenho teu amor,
teu riso, teus ofensas, teu
embeleço,
(teus encantos em os quales
gozo) teu calor.
Quiçá será melhior morrir,
apressurar la ida...
fechar os olhos
e esperar ansioso teu
regresso.
(Página 63)
---000---
NOTURNA CONFISSÃO
Para ti eu debo ser
a fêmea que submissa espera
velando teus vestidos
ou bordando teus encaixes.
A fêmea prisioneira
de um corpo equivocado,
que em as noites de lua,
se abandona a teus carícias
buscando entre trevas
teus encantos.
Caleu uma vez... e me custó
teu amor.
(Página 64)
---000---
Autoretrato. Museu dos Uffici. Florencia.
---000---
OS MORTOS
Retomar o já vivedo....Onde?
Não há ilha, nem mar, nem um
ave sequer
que acompase nosso voo.
Esconde
o sol seu fina e áurea
cabeleira.
Chamas de amor, amor que não
responde.
Se o sol acegacido já não
vira
a vida triste e solitaria,
por onde
há ido nosso amor, tal vez
quisera
abrir seus raios novamente
hacia
êste mondo em sombras. Oh!,
louro
é o lamento que teu, astro,
auscultas.
Oh! Sol escurecido, divina
graça:
os mortos andam sós por o
mondo,
andam sós como almas
insepultas.
(Página 67)
---000---
EPITÁFIO I
Em vão te me acercas mortal,
pois, se em vida não te
conheceu,
menos o puder fazer agora
que já estou morto.
(Página
68)
---000---
EPITÁFIO
II
...foundless and bare the lone level
sands stretch for away.
SHELLEY (Ozymandias)
De que valem vossos prantos,
quando a lousa do sepulcro
não deixa passar as
lágrimas.
(Página 69)
---000---
SINFONIA PRIMEIRA
Eu tão só queira
teu peito junto ao meu
teus lábios nos meus
de manhã.
Eu tão só saudava
o canto de teu voz,
o rubor de teu rosto
uma manhã.
Eu tão só a Deus pedia
que me deras um momento,
que me deras o alento
uma manhã.
E hoje tão só....
me hás dito que me vá
que já me hás olvidado
que o canto de teu voz
será de outro,
será de outro, outra manhã.
(Página 70)
---000---
SINFONIA SEGUNDA
Silência o canto o céu azul,
que em teus olhos escurece;
ave que vá, vem ou volta...
e, em cada ir e vir,
meu vida se estremece
em êsse canto
céu
ou esperança
que a morrir volta a teus
olhos.
(Página 71)
---000---
CADA NOITE UM LADRÃO
Cada noite um ladrão
se arrasta hacia teu leito
a recolher teus suspiros....
e regressa sobre teus passos
vitorioso.
Um álamo emerge agressivo.
Te aferras, o desfolhas com
teus lábios.
Uma chuva esperada o faz
florescer
e se sacude impetuoso
deixandote
envolvida
entre folhas brancas.
(Página 72)
---000---
Jacob lutando com o anjo. Museu, Berlin.
---000---
CAMINHO DO OUTONO
Em que parte do caminho
ficarom as alegrias,
as brancas pombas que
voavam nos campos,
aquêles viagems intermitentes
de noites estreladas
com árvores anhiados
de luzes incandescêntes.
Parece que houvera nuvems
nas quales o tempo
não deita raizes.
(Amores crepusculares
que fecundan na alva,
amores seculares
que se perdem no tempo).
(Página 75)
---000---
Ai! Deus, que nunca hei
visto
porém que hei sentido.
Que forza divina
tem o querer
para copular no coração?
(Gris é a tristeza
que tem o mar
quando beija a areia;
branca a espuma
que nas noites
de lua se serena)
E agora que envelhecemos
nos damos conta,
que a alegria com que a vida
vêm
é a mesma tristeza com que o
amor se foi.
(Página 76)
---000---
GÉNESIS
Reparteron entre si minha vestimenta e
sobre meu capa deitarom sortes.
(Salmo 22, 19)
Quando o lavrador de barba
cana
terminó de semear a última
semente
sobre a terra,
havia já transcorredo
o sexto dia.
E foi na manhã do sétimo
- que cansado como estava -
deitou-se sobre a erva
ficando-se sumido
num sonho profundo.
Miles de séculos o inundarom
remexendo tudo seu ser.
Veu chamuscarse seu colheita
tuda,
voltarse a terra estéril,
escurecerse os céus
onde Êl havia feito luz,
(Página 77)
---000---
livrarse os ventos
espargendo por doquer
o fogo incandescente
que devourava seu repouso.
Um medo aterrador
o invadeu súbitamente
- e ainda sonolento -
trató vãmente de desfazerlo
tudo.
Peróm se deu conta de que
tudo seu poder
não seria suficente
para fazer num segundo
o que havia levado tão
tempo.
Ao presentir o inevitável,
o lavrador pegou seu arado
e se perdó nas sombras.
(Página 78)
---000---
Autoretrato (Rembrandt com
seu esposa Saskia). Galeria Real de
Dresde.
---000---
A CASA VAZIA
O silêncio dos meninos
há feito desta pequena casa
uma casa tão enorme
que qualquer rico envejaria.
Transpassando a chuva
fico atrás as ruas
solitarias.
Tudo nesta casa é quietude.
Os livros mortos em eterno
sono.
Uma mosca aborrecida me
acompanha,
sentendo compaixão hacia
êsste solitario.
Jogo com ela, a espanto
me escondo baixo a mesa
e me persigue.
(Página 81)
---000---
Passado uns minutos,
paresce como se dera conta
que não sou boa companhia.
De securo está escondida
entre os livros
esperando que me morra.
(Página 82)
---000---
ROSAMAR
Ao partir mui de manhã
em teu leito semei uma rosa.
Foi uma rosa de paxião
de aquêlas que sem
querer-lho, Rosamar,
se adonan do coração
de a pele em que se pousam.
Ohje que hão passado os anos
hei volto por meus amores
e como ladrão perseguido
por a matilha, só e ferido
me hei escondido em teu
regaço
a ver a rosa de teus dôres.
Vãomente entre as sombras
meus mãos a buscarom,
como se um cheira estranho
seu fragrança substituera.
(Deixé a um lado algazarra
que me traixo até teu lado)
(Página 83)
---000---
Ao darme por inteirado
que a outra flor has
acolhido
onde eu teu amé com fruição
hei chorado, amargamente,
Rosamar.
Mais não creas que teu has
sido
a causante desta pena que me
mata.
Este pranto lastimero que me
afoga,
é o fruto de haver visto
murcharse
à rosa que eu amava.
Rosa pura e encarnada,
Tão igual à primeira
que em teu leito eu semerei
ao partir mui de manhã.
Blason de amor e de paxião,
são aquêlas que sem
querer-lho, Rosamar,
se adonan do coração
de a pele em que se pousam.
(Página 84)
---000---
Danae. Museu Ermitaje. Leningrado.
---000---
AUTORETRATO
Eu tenho a cara
dum homem triste,
dum homem que há sofredo,
dum homem que há chorado
e há mentido.
Eu tenho a cara
dum homem mau,
dum homem que há golpeado
dum homem miserável
que há feito dano.
Eu tenho os mil rostos
da vida,
eu tenho os mil rostos
da morte;
e agora dou o que sempre
hei recebedo,
e agora recebo
o que sempre hei dado.
(Página 87)
---000---
Eu tenho a cara
dos homems,
eu tenho na cara
muitos nomes,
espelho da vida
é nosso rosto,
espelho que se quebra
com a morte.
(Página 88)
---000---
RETORNO
1
Teu sabes que meu vida
é uma onda interminável
que quere deixar o mar.
Porque hei de chegar à beira
como a espuma ou como os
peixes
já cansados de nadar?
2
Se aqui no mar
sempre há estrelas
que não se vão,
e uma noite interminável
onde a lua sempre está.
Aqui tudo é silêncio, paz e
amor.
A paz do solitario que
decambula,
a paz que só da a soledade.
(Página 89)
---000---
3
(Eu já conhece a terra dos
homems,
a estéril companhia que se
dão)
4
Eu sou um peixe,
sou a maré que baixa e sube
eternamente,
o peixe que pica no anzol
dum cansado pescador
que me devolve sempre hacia
o mar.
5
Eu sou um náufrago
na inmensidade: sal,
gaivota, musgo,
cetáceo, galeão, coral.
Quando vejas pequena menina
meu corpo inerte baixo o
sol,
faz com êle uma fogueira
e devolveme ao mar.
(Página 90)
---000---
“BREVES
CONFISSÃOS
AO DEUS BACO”
---000---
I
Hoje que bem que hás
olvidado
que o beijo que ontem me
diste
foste teu quem o pediste
e não o homem que hás
deixado.
(Página 93)
II
Há noites em que presento
que só me voi ficando,
pois, teu te vai afastando,
Será teu amor como o vento?
---000---
A ronda de noite. Rijks Museu. Amsterdam.
---000---
III
A rosa que eu queria
nem era branca nem era
vermelha
tão só uma flor formosa
o que meu amor te pedia.
Página 97)
---000---
IV
Espinhas,sangue, venenos,
soave dôr que me destroça,
são de meu boca ansiosa
as rosas que há em teus
seios.
(Página 98)
---000---
V
Tardé tão só um instante
soias dizer ontem,
em saber que o importante
não é amar senão querer.
(Página 99)
---000---
VI
Aqui se me vai a vida,
aqui te deixo meu amor.
Amor puro e sem feridas
pois, eu me chevo o dôr.
(Página 100)
---000---
Os síndicos. Rijks Museu. Amsterdam.
---000---
VII
Serena o ar azul
a beldade triste e segura,
dum trajo de soave tule
lembrança de teu formosura.
(Página 103)
---000---
VIII
A ave canta ligeira
ao saber de teu partida,
pois, sabe que não há jeito
de meu alma curar a ferida.
(Página 104)
---000---
“BRISAS DO
ESTIO”
---000---
SE EU HOUVERA SIDO CANTOR...
Se eu houvera sido cantor
te houvesse dado uma canção
porém só hei sido um poeta
que te há causado dôr.
Que formoso que houvesse
sido
que eu te pudera cantar
mais agora que tu amor se há
ido
quem o pudera alcançar.
Ingrato há sido o amor,
perverso com tigo e com migo
cruel inferno o do destino
que com fogo semeu o
desamor.
(Página 107)
---000---
TU MIRADA...
Tu mirada,
lacerante e atenta,
perdura em meus pensamentos,
faz fugir meus sonhos,
acrescenta meu vigília.
(Página 108)
---000---
Cristo e adúltera. Galería Nacional. Londres.
---000---
ENTRE O SILÊNCIO....
Entre o silêncio
distos muros
onde se confunderom
o amor e a angustia
ficarom teus pisadas.
(Página 111)
---000---
TEUS OMBROS ARDEM....
Teus ombros ardem
de luxuria mentras o zelo
atiça meu tortura.
Um silêncio sigiloso
me espanta,
e o folhagem dos álamos
traze até a mim,
uns gemedos inocentes
que são um deslice de Deus.
(Página 112)
---000---
“VARIACÃOS
DESDE UM PALCO
ÀS ESCURAS”
---000---
HÁ UMA CALHANDRA....
Há uma calhandra,
que confundida nos alisos
chega até as messes
em busca do repouso
merecido,
porém, um corvo a fustiga
e a faz fugir.
(Página 115)
---000---
OHJE HEI VOLTO
COMO OS MORTOS....
Ohje hei volto como os
mortos
a recolher meus passos.
E hei volto novamente
a chorar em silêncio
sobre meus sapatos.
(Página 116)
---000---
Uma ancião. Rijks
Museu. Amsterdam.
---000---
HÁ NOITES TÃO GRAVES
COMO ÊSTA...
Há noites tão graves como
esta
em que se quebra meu alma
num instante.
Há noites tão graves como
esta
em que nego a Deus
que tristeza.
(Página 119)
---000---
OFELIA
Me assusto como um menino
perdo na noite
dum bosque infinito,
quando meu mirada
se perde em teu mirada,
e o brilho de teus olhos,
claro como a bruma do estio,
me anuncia que manhã
te haverás ido...
e que tenra é a noite
- que sela o beijo inerte -
que em teu partir deixaste.
(Página 120)
---000---
Retrato. Elkins Park. Coleção Widener.
---000---
CANÇÃO PARA UM VIAGEIRO
ETERNO
Para Gabrielle
É que não quis ser...
o eterno viageiro
éle que olvidó teu infância
o homem irascivel
que tudo censura.
É que não quis ser...
éle que atropeló teus jogos
éle do silêncio eterno
éle que murcha as flores
o papão feroz
de teus pequenos contos.
É que não quis ser...
a sombra entre nós
o mar entre a terra
o alma avelhentada
éle que vive de pressa
o arvore anoso
o ave de passo
a ilha solitaria.
(Página 123)
---000---
Porém, filho, meus olhos
surdos
e meus ouvidos cegos
se perderom para sempre
em êsse eterno viageiro.
Mais ainda assim...
amo teus mãozinhas brancas
teus grandes orelhas
teu mau comportamento
teus graciosos disenhos
teu alma de menino
teus fingidos suspiros
teus falsos dôres
teus anjinhos brancos
teus diabozinhos vermelhos
o calor do teu corpo
quando jazes dormido.
(Página 124)
---000---
Dois filósofos. Rijks Museu. Amsterdam.
---000---
ÍNDICE
Prólogo
................................................................................................. 13
AS MAUS CONSCIÊNCIAS
Poema Primeiro
.................................................................................... 17
Poema Segundo
.................................................................................... 18
Poema Terceiro
..................................................................................... 21
Poema Quarto
....................................................................................... 22
Poema Quinto
....................................................................................... 25
Poema Sexto
......................................................................................... 26
Poema Sétimo
....................................................................................... 27
Poema Oitavo
....................................................................................... 28
Poema Nono
......................................................................................... 31
Poema Décimo
...................................................................................... 32
Poema Undécimo
.................................................................................. 33
Poema Duodécimo
................................................................................ 34
Poema Décimo Terceiro
........................................................................ 37
Poema Décimo Quarto
.......................................................................... 38
Poema Décimo Quinto
.......................................................................... 41
Poema Décimo Sexto
............................................................................ 42
Poema Décimo Sétimo
.......................................................................... 45
Poema Décimo Oitavo
.......................................................................... 46
Poema Décimo Nono
............................................................................ 49
Poema Vigésimo
................................................................................... 50
Poema Vigésimo Primeiro
.................................................................... 53
Poema Vigésimo Segundo
.................................................................... 54
AS VOZES DE OUTROS
As aves
................................................................................................. 59
Outuno
................................................................................................. 60
---000---
Sinfonia do desamor
............................................................................. 63
Noturna confissão
................................................................................. 64
Os mortos
............................................................................................. 67
Epitafio I
............................................................................................... 68
Epitafio II
............................................................................................. 69
Sinfonia Primeira
................................................................................. 70
Sinfonia Segunda
................................................................................. 71
Cada noite um ladrão
............................................................................ 72
Caminho do outuno .............................................................................. 75
Génesis
................................................................................................. 77
A casa vazia
.......................................................................................... 81
Rosamar
............................................................................................... 83
Autoretrato
........................................................................................... 87
Retorno
................................................................................................ 89
BREVES CONFESSIONES AO DEUS
BACO
Poema I
................................................................................................ 93
Poema II
............................................................................................... 94
Poema III
.............................................................................................. 97
Poema IV .............................................................................................. 98
Poema V
............................................................................................... 99
Poema VI
............................................................................................. 100
Poema VII
........................................................................................... 103
Poema VIII
.......................................................................................... 104
BRISAS DO ESTIO
Se eu houvera sido cantor
................................................................... 107
Teu mirada
.......................................................................................... 108
Entre o silêncio
.................................................................................... 111
Teus ombros ardem
............................................................................. 112
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VARIACÃOS DESDE UM PALCO ÀS
ESCURAS
Há uma calhandra
............................................................................... 115
Ohje hei volto como os
mortos ........................................................... 116
Há noites tão graves como
êsta ............................................................ 119
Ofelia
.................................................................................................. 120
Canção para um viageiro
eterno .......................................................... 123
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“ As maus consciências”, de Guillermo
Delgado se terminou de imprimir em as oficinas gráficas de Editorial
“San Marcos” R..I. 15 - 05828-D.
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Bem formado e informado como
os poucos poetas das últimas promocãos, Guillermo Delgado é un gran leitor dos
clássicos e experto conhecedor da preceptiva literária e do rigor métrico.
Arturo Corcuera.
O singular talento poetico de Guillermo, faz que
cada página passe ante nós como passa a vida, como o tempo: sem deixar de
passar e sem passar. Sem que de um verso ao outro se interrompa o fluir de
imágems, reflexãos e enigmas.
César Calvo.
Vocação de transparência;
versos vivos, limpos, de uma frescura matinhãl, nós revelam que a beleza bem
posse habitar uma meridiana simplicidade.
Certo gôsto por a retórica
clássica não escurece a musicalidade do canto presente em seu obra, impregnando
seus versos de uma atmosfera clara, mágica e íntima até a confidência.
O tom argumental de seus
poemas nós mostra um narrador lírico, a um poeta que sempre tem algo para
contar porque em seus versos ainda a tristeza é bela.
Martha Isarra.
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EDITORIAL
SAN MARCOS
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